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Meu primeiro Livro Ebook

Meu primeiro Livro Ebook

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EMERSON NASCIMENTO.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INDICE;

 

1 – EM VOLTA DO POÇO

2 – TUDO PRA DAR CERTO

3 – UM ABISMO LEVA AO OUTRO

4 – DENTRO DO POÇO

5 – FIM DO POÇO

6 – A LUZ NO POÇO

7 – A CORDA

8 – A CANECA

 

 

 

 

 

1 - EM VOLTA DO POÇO

 

 

Tudo era muito simples, uma vida normal; pai, mãe e 2 irmãs, eu era o filho mais velho, morando em um bairro muito humilde do Recife. Lembro bem das histórias que ouvia dos nossos pais a respeito de quando tinham que andar kms para pegar água na cacimba de seu biu, quantas histórias boas em meio a tantas dificuldades, eram felizes mesmo sem ter o que temos hoje com a tecnologia. Meu pai descendente de africano sofreu muito no primeiro emprego, seu encarregado era um branco racista e o chamava de macaco, muitas vezes chorava escondido e suportava tudo aquilo para nos sustentar, ter a carteira assinada era privilégio de poucos.

Nunca tivemos fartura, mas também nossos pais nunca deixaram faltar comida na mesa, que fosse ovo com farinha e um copinho de café, mas tinha alguma coisa.

Nunca fui bom na escola, os professores me chamavam de aluno cobra. Meu pai certo dia foi chamado e a diretora falou isso a ele. – Porque aluno cobra? Perguntou meu pai.

-Ele só passa se arrastando, aqui as notas dele são sempre baixas, sempre no limite. - Levei uma bronca daquelas, mas em fim, sempre passava de ano.

Meus pais me criaram tentando me proteger das más companhias, até completar maior idade nunca passei noite fora de casa. Tivemos instruções cristãs apesar deles não estarem frequentando nenhuma igreja, minha mãe em determinada época foi alcoólatra até que ela teve um encontro com Deus, uma linda história de superação, começamos todos em casa frequentar a igreja. Até que um belo dia casei e saí de casa para viver a minha vida.

Essa é a história resumida do que tenho em mente sem muitos detalhes, algumas pessoas conseguem guardar muita coisa de sua infância, eu não consegui, acho que tive muitas cenas ruins que tentei esquecer e estão ainda muito guardadas, acabei lembrando de um dia na escola, não sei o motivo, mas tinha uns garotos que me humilhavam, minha orelha era grande, é grande, então eles me zoavam bastante, certo dia a professora cansada do Bullying que faziam comigo colocou todos de castigo, hoje essa palavra virou moda, a professora tentou me ajudar mas só fez piorar as coisas, os moleques na largada me pegaram e jogaram dentro de um buraco de uma casa que estava em construção, eles me jogaram lá, após alguns minutos uma pessoa passou por perto e viu os meus gritos de socorro, nunca contei aos meus pais, eu tinha medo, meu pai me fala a seguinte frase: se você brigar na escola e bater em alguém você apanha e se chegar apanhado vai levar outra surra! Hoje entendo que isso deve ter causado um trauma na minha cabeça, insegurança, dúvidas, necessidade de aprovação, dentre outros, enquanto escrevo esse livro vou lembrando algumas coisas, lembro também que fiz xixi na cama até os 10 anos de idade, acho que foi isso, toda noite acordava molhado. Eu era muito inseguro, tudo que falavam de ruim ao meu respeito eu aceitava calado, quantas vezes ouvi que eu era burro, a começar pelas orelhas? Passei minha vida toda acreditando nisso. Nossos pais na inocência e sem muita instrução tentaram fazer o melhor que podiam, não os julgo, hoje muito pai tem instrução e não fazem a sua parte, cabe a nós hoje ajudar nossos filhos a serem homens de verdade, a tomarem as rédeas de suas vidas, a pensarem no futuro, a enfrentarem dificuldades de cabeça erguida, a falar na hora certa, a se posicionar, enfim, é de pequeno que se faz o grande. Mas também tive alguns amigos legais, adorávamos brincar, pipa, futebol, corre-corre, pega-pega, se esconder, pular corda, aventura na selva e tantas outras brincadeiras, tínhamos tantas brincadeiras que muitas vezes saiamos pela manhã e só voltava para casa a noite de baixo cacete, era cipó de goiaba no lombo, haaa minha época! Essa internet certamente não está fazendo muito bem para essa geração, talvez uma outra geração entenda que precisa se desconectar um pouco.

 

2 – TUDO PRA DAR CERTO

Provérbios 9.10

 

 

 

Juventude passa rápido, então casei e fui trabalhar em uma empresa terceirizada da prestadora de energia elétrica, passava o dia inteiro andando no sol e chuva de casa em casa entregando as contas de luz, mulher grávida, morando de favor e sem muitas expectativas recebi um conselho que destravou minha mente para os estudos. Certo dia encontrei meu amigo Josuel, tem uma história de superação incrível, e conversando sobre a vida ele me falou do que os estudos estava fazendo na vida dele, me mostrou resultados e logo me desafiou a estudar com ele. Aceitei, e aos poucos, começando do zero, livro por livro e sem pressa, comecei a pegar gosto, ele me deu um livro e pediu que eu lesse, comecei a estudar sozinho, 1, 2, 3, 4…perdi a conta de quantos livros do ensino primário e secundário de todas as matérias eu estudei. Em 1 ano e meio passei para meu primeiro concurso público (prefeitura de Jaboatão) fui exercer a função de auxiliar de serviços gerais, não era grande coisa, mas estava estabilizado, era emprego garantido, sonho de muitos desempregados e mesmo empregados que estavam levando grito do chefe.

Estava muito feliz, sensação de missão cumprida, sucesso, a família muito feliz com essa vitória.

Comecei limpando excrementos de animais no centro de zoonoses em Jaboatão-PE, mas não queria só isso, continuei em todo momento vago procurando ler, e logo fui perseguido por uma chefe que não queria me ver estudando e me transferiu para trabalhar nos postos de saúde, continuei estudando, pois era só o começo de onde eu queria chegar, não sabia até onde iria, só sabia que queria mais. Seis meses depois passei no vestibular da UFPE para Licenciatura em Geografia, UAUUUUU, eu estava decolando, estava tudo fluindo, eu queria mais, e passei em mais um concurso: ano de 2003, PMPE, isso mesmo, POLICA MILITAR DE PERNAMBUCO, meu amigo, isso era o topo para as condições que meus pais tinham e que fui criado, ninguém na família tinha conquistado tanto como eu, Motivo de orgulho para todos. Estava animado, queria mais, tinha a sensação de que poderia chegar muito mais longe, nada poderia me deter, estava me sentindo o máximo, andava flutuando, mas sempre respeitando a família e Deus em minha fé cristã, sem jamais querer humilhar ninguém, pelo contrário, sendo muito humilhado como já relatado aqui.

Na polícia o mundo é outro, tudo novo e muito “poderoso” nos fizeram acreditar durante a formação de Policial que éramos os super-heróis, não podia vacilar, não podia chorar, não podia recuar e fraqueza jamais. Muita pressão, escala apertada e muitas horas extra para manter um nível de vida que as pessoas esperavam de um policial, ou seja, policial em grande maioria está sempre endividado, todos emprestavam dinheiro, e isso se tornou uma bola de neve.

3 – UM ABISMO LEVA AO OUTRO

 

 

Meses sem ir na igreja, sem contato com Deus, família começou a ficar em terceiro plano, o que importava era manter o padrão Policial, abandonei a faculdade de Geografia e fizemos uma viagem para Caruaru, Pleno São João de 2006 onde tive uma primeira queda espiritual, meus valores já haviam sido esquecidos e cometi um grande erro contra meu casamento. Voltando para recife depois de 30 dias sem ver a família, muita pressão no trabalho para atingir as metas em apreensão de armas e drogas, fui deixando sempre a família por último, minha filha já havia nascido e eu não estava dando a devida atenção. Infelizmente deixei a maior riqueza da minha vida de lado, isso é o que mais dói hoje, saber que você foi o único culpado de tudo, que suas escolhas poderiam ser as melhores possíveis, mas infelizmente não aprendi com os erros dos meus pais, afinal minha mente estava bloqueada, meu subconsciente só queria mostrar a todos que eu não era um fracasso, quando na verdade eu deveria apenas aceitar que era vencedor.

 

Final de 2006 recebi um convite de amigos para uma festa, estava em um momento delicado no casamento e estresse no trabalho, deveria ter ido para casa e resolver, mas não queria enfrentar meus problemas, queria fugir deles, logo aceitei o convite. Bebidas, drogas, mulheres, luxúria...essa era a cena que me encontrava, nunca havia entrado em um ambiente daquele. Fiquei travado, sem jeito, sem dançar, parado. Aproximou-se uma mulher e logo começou a insistir que eu bebesse com ela, de tanto insistir tomei 1 copo de cerveja, pronto, naquele momento entrou todos demônios, eu já não era eu, comecei a beber mais, peguei um cigarro Black e entrei na onda. Daí para a frente minha família foi me vendo cada vez menos, só tinha tempo para o trabalho, amigos e mulheres.

Toda noite uma mulher diferente, muitos amigos em volta, muito dinheiro fácil e facilidade para conseguir as coisas, arma na cintura e me sentia o dono do pedaço. Comecei a criar raiva de pessoas soberbas, do meu ponto de vista, pois eu era um soberbo. Quando eu via alguém querendo aparecer demais em algum ambiente que eu estava logo dava um Jeito de mandar essa pessoa desaparecer, mandava ir embora e muitas vezes para isso eu colocava a arma na boca, consegue imaginar esse absurdo? Fiquei muito conhecido por onde andei por minha postura autoritária e ao mesmo tempo amigável, todos queriam estar por perto, até mesmo porque, na roda eu que pagava a conta da cachaça. Convivi com muito tipo de pessoas, vários grupos, e para ser aceito em um grupo é preciso ter simpatia, e para ter simpatia era preciso ter os hábitos dos mesmos. Então comecei a fumar maconha no grupo dos maconheiros, cheirar pó no grupo da farinha, etc. Até que um triste dia fui convidado para uma festa na casa de um dos maiores traficantes e homicidas. O cara simpatizou comigo de primeira, tapinha nas costas, cadeira de destaque e a bela frase: aqui quem manda é você. Tudo que um soberbo quer ouvir. Para minha surpresa o cara estava fazendo uso de crack, todo mundo com medo dele e eu passei a noite inteira só analisando e ainda assim nos tornamos grandes amigos. Fiquei imaginando ali; como pode um cara tão admirado, tão disposto como diz no mundo do crime, cair nesse negócio de crack? a verdade é que eu nunca tinha visto ninguém usar, pois quem usa, faz as escondidas. Hoje entendo que são diversos motivos que levam as pessoas a esse buraco, a maior deles é a curiosidade, justamente porque quem faz uso, faz em ambiente escuro e longe de outras pessoas, só chega perto de um usuário de crack no momento do uso quem ele tem por amigo e quer por perto, e se você é amigo vai querer estar junto e fazer as mesmas coisas. Outros entram por se acharem os super-homens, acham que são fortes demais e que é apenas safadeza de quem é viciado, nisso ele usa 1, 2 e na terceira já está no buraco. No meu caso foi o seguinte; dias depois me engracei com uma jovem muito bonita que frequentava o ambiente, viciada em crack, de família estruturada, estava perdida ali. Semana depois chamei para sair e no hotel ela começou a dar “tiro na lata”, termo usado para quem faz uso de crack em lata de refrigerante, ela só queria saber de usar droga, chegou um momento que não aguentei mais esperar e chamei para ir embora, ela acalmou um pouco e foi deitar, na verdade a pedra já havia acabado e ela queria mais, continuou na fissura a noite toda. Semana seguinte saímos novamente, dessa vez eu estava bêbado quando entramos no hotel e logo ela foi usar a droga e me ofereceu, aceitei, e aquela noite eu havia tropeçado na pedra na beira do poço.

 

 

 

 

 

 

 

4 – DENTRO DO POÇO

 

 

 

Semana seguinte estávamos lá novamente, na outra e na outra e na outra...virou uma rotina e quando menos imaginei já estava lá, dentro do poço, e quando acordei já era tarde.

Semanas sem ver a família, chegando tarde no trabalho, muitas vezes faltando, comecei a sentir dores devido a minha altura, 1.83 e ficar muito tempo inclinado dando tiro na lata comecei a ter crises na coluna e na hora do trabalho me dirigia ao hospital da PMPE que me davam injeções e mandavam para casa, e eu iria usar droga novamente.

Estamos no ano de 2008, muitas vezes indo trabalhar sob efeito de drogas, perdi muito peso, comecei a ser chamado atenção pelos meus pares e sargentos, pois eles pensavam que era por conta da bebida e da farra, fui levando essa situação como dava. Comecei a viver uma vida miserável, me tornei um zumbi, me afastei de tudo e todas amizades, meu único ciclo de amizade era os que usavam crack.

 Tinha a casa de um amigo em que nos reuníamos, cada um levava o que podia, cooperava como dava para dar o tiro na lata. Imagina 15 pessoas dentro de uma casa e todas fumando crack!

Eu vi de tudo naquela vida, eu vi o inferno de perto. Entrei dentro do inferno, vi cenas inacreditáveis, parecia filme de terror, cada viciado tem uma neurose, uns após dar o tiro corre no meio da casa, outro começa a cantar, dançar, deita no chão, outro começa a limpar tudo, outro toma banho e a maioria deles que observei, ficavam desconfiados e olhando pelas fendas da porta e janelas. Eu ficava ali tentando me controlar, tentando entender o que estava se passando em minha mente, após cada tiro que dava, meus ouvidos começavam a ouvir a kms de distância, era só coisa da minha cabeça, eu ficava pensando que alguém bateria na porta a minha procura. Mas eu não me levantava da cadeira, me segurava, que paranoia louca, sensação de medo e prazer ao mesmo tempo, e essa era a onda de ficar usando mais e mais, queria sentir novamente essa loucura que me deixava longe dos problemas do dia a dia.

 

Lembro de uma jovem, patricinha de boa viagem, após o teco ela tirava a roupa por completo na frente de todo mundo e começava a babar...coisa demoníaca, dá arrepios só de lembrar! Quando passava a paranoia ela pegava a roupa do chão e se vestia novamente, daí ela voltava e vinha dar outro teco e ficava nesse ciclo vicioso até que o dinheiro acabasse. O que mais tinha era mulher se prostituindo para usar droga, e a pedra estava sempre disponível com o traficante que já ficava lá dentro da casa só esperando para vender. O cara ganhou muito dinheiro.

Estamos em 2010, usei muita droga, estava magro, 64 kg, fui desfiando, e já não aguentava mais trabalhar, muitas faltas e atestados médicos, sem dinheiro para usar drogas. Certo dia meu pai acabou me pegando na fraga usando droga em um Club com amigos, chegou ele e minha irmã mais velha e viram aquela cena. Desespero tomou conta do meu pai, Choramos juntos, tentei acalma-lo prometendo que não usaria mais e pedi que fosse embora para casa, nunca vou esquecer da frase que ele me falou: se preciso for, vou entrar na droga para tirar você, tentou pegar a lata da minha mão para usar crack e não deixei.

Minha vida não mudou, continuei fazendo as mesmas coisas, ainda que tentasse sair das drogas eu não tinha mais forças e pedir ajuda na Polícia não era opção, confessar minha fraqueza, dizendo que eu era um drogado estava fora de cogitação. Nem se falava nisso, na PM tinha apenas tratamento para alcoólatras e muito mal se falava a respeito, ninguém queria ser visto como um fraco.

 

Então tomei uma decisão desesperadora, eu estava já separado, com 2 filhas e vivendo com outra mulher que estava grávida do 3º filho, vivendo de favor, havia vendido meu carro e empenhado a moto na boca de fumo, até minha arma perdi para o crack. Eu já estava sendo investigado devido algumas faltas ao trabalho, e para não descobrirem que eu era um viciado fui no 6º Batalhão da PMPE, onde eu estava lotado, pedi para ser exonerado, isso mesmo, cheguei lá falando que não queria mais continuar na corporação, falei que tinha outros projetos de vida e para minha surpresa me deram um documento para assinar e fui embora até o dia de hoje.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

5 – FIM DO POÇO

 

 

 

 

Agora estava eu, fora da polícia, sem emprego, sem família, sem amigos. Não foram eles que me abandonaram, fui eu que me afastei de todos, o uso dessa droga nos deixa sem humanidade, é uma droga antissocial. Lembro que no carnaval de 2009 passei 7 dias trancado dentro da casa, redil dos crackudos, sem comer e sem dormir, só usando drogas, nessa semana torramos uns 8mil reais.

Quando o dinheiro acabou de verdade, não tinha mais de onde tirar, ficamos loucos, saiamos pelas ruas pedindo dinheiro, juntava de 1 em 1 real para comprar a pedra de crack de 10,00 que virava vapor em 5min.

O dono da casa em atitude desesperada, paranoia louca, vendeu a residência, redil dos crackudos, por 120mil, uma casa que na época valia no mínimo 500mil, esse amigo meu era muito louco, nunca vi alguém igual, o cara aguentava usar droga demais, ninguém batia de frente com ele dando teco. Se tivesse competição certamente ele seria o campeão mundial.

Ele pegou essa grana colocou na conta e começamos a morar em um hotel, eu e ele, as drogas e as mulheres que iam e viam todos os dias. Em 3 meses gastamos tudo, era muita farra no hotel, muita droga e prostituição. Mas o dinheiro acabou e voltei a morar dentro da casa da minha 2º esposa, estava grávida, e mesmo assim trabalhava para sustentar a casa, a primeira esposa também fez o mesmo, foi trabalhar para sustentar as 2 filhas. Hooo fase miserável foi essa a minha!

Continuei usando drogas dentro de casa, tentava esconder de todos, poucas pessoas sabiam que eu tinha saído da polícia, pegava dinheiro emprestado, havia uma outra mulher que gostava muito de mim, tinha muito dinheiro e fazia de tudo para que eu fosse morar com ela e saísse das drogas, e com ingenuidade me dava dinheiro também. Eu nunca aceitei ser sustentado por mulher, também não queria o dinheiro dela, me segurava até onde podia para não pedir nada, afinal, eu era muito orgulhoso. Se eu fosse escrever sobre cada pessoa que passou em minha vida daria um livro, e talvez cada pessoa que passou em minha vida escreveria um livro de como eu era e como me viam naquela época.

Mas em fim, nada mudava, estava preso, acorrentado, no fim do poço literalmente. E para piorar tentaram tirar minha vida, um rapaz de 18 anos que há 4 anos eu tinha colocado ele para correr do bairro, ele estava praticando pequenos furtos e teve um desentendimento com outro amigo meu, agora ele estava de volta e queria vingança. Eu noiado, sem rumo e sem noção, desfilando atrás de droga na avenida, fui convidado por uma amiga para tomar um copo de cerveja, mas eu não queria isso, meu negócio era dar o teco, mas parei e sentei, quando de repente senti um calafrio, algo estranho, levantei e fui embora sem nem me despedir, fui para casa de minha mãe que era ali perto, estava aéreo, e ao chegar no portão de casa um amigo gritou para que eu entrasse depressa e não saísse mais, fiquei assustado! Ele começou a contar o que havia acontecido enquanto eu estava sentado na mesa; esse rapaz de 18 anos apareceu e puxou a arma para me matar quando uma outra amiga se abraçou com ele e não deixou que isso acontecesse. A única explicação é que Deus é muito misericordioso, sempre está nos dando nova oportunidade.

Fiquei furioso, queria voltar lá e matar ele, mas, matar como? Sem arma, pois havia perdido para as drogas, sem amigos na polícia pois me afastei de todos, sem amigos das noitadas, enfim, ninguém queria me emprestar uma arma ou me ajudar, pois pensavam que eu iria vender para usar droga. Ninguém me ajudou naquele momento, apenas minha mãe desesperada e chorando pedindo que ficasse em casa, me colocou para dentro, trancou os portões, escondeu a chave, se trancou no quarto e se colocou a orar. Momentos antes ela já estava orando por minha vida, minha guerreira tem muita história para contar.

Passei a noite acordado premeditando como iria o matar, e minha mãe teve um plano, me falou que estava comprando minha passagem para o Rio de Janeiro, minha irmã mais nova morava em Austin, então falei para marcar a passagem de madrugada pois eu iria tirar a vida do rapaz e viajaria sem que ninguém soubesse. Dia seguinte minha mãe chega e informa que só conseguiu tirar a passagem para a tarde daquele mesmo dia, fiquei irado, meu plano não daria certo, e com muita insistência dela viajei para o Rio de Janeiro.

Na bolsa de viagem apenas algumas bermudas e camisetas velhas, o único celular que tinha fui imediatamente na boca de fumo e troquei por 2 pedras de crack, uma delas levei na viagem.

6 – A LUZ NO POÇO - joão12:46

 

 

 

Chegando na Cidade maravilhosa, com minha vida destruída, não via eu encanto algum, na verdade a muito tempo não via a beleza em nada, fui bem recebido por minha irmã que chorou ao me ver, pedindo por tudo que eu saísse dessa vida, tentei acalma-la dizendo que tudo ficaria bem, eu só queria tomar um banho e usar minha única pedra de crack que estava no fundo da mala, não sabia eu que essa seria a última.

Dia seguinte minha irmã saiu ao trabalho e fui usar minha única pedra, fiquei na fissura de querer mais, recém-chegado naquele lugar, não tinha onde buscar e decidi então encher a cara de álcool, comprei cachaça e tomei até a mente apagar, e fazia isso dia após dia na intenção de não ter que entrar na boca de fumo no Rio de Janeiro para pegar drogas.  Imagina um ex-policial fazendo isso? E se descobrissem o que eu era ou quem eu fui?

Foram exatamente 1 mês tomando cachaça até apagar a mente, lembro que chegava cedo na casa da minha tia Ana, uma baixinha com um coração acolhedor, eu ficava ali no seu quintal bebendo e escutando os seus conselhos. Certo dia meu primo chegou com um xadrez perguntando se eu sabia jogar, lembrei que na polícia havia aprendido a jogar xadrez com um amigo, começamos a passar horas jogando e ele me falando sobre a vida e o amor de Deus de forma ilustrativa através do jogo, cada peça no tabuleiro tem uma função, cada uma se move de maneira diferente, mas todas se movimentam com o único objetivo: atacar e deixar o rei sem saída e assim era o xeque-mate. Minha mente começou a abrir, comecei a refletir... sou o rei da minha vida e estou encurralado, perdi todas as peças e só me resta uma rainha. Era como se fosse a última oportunidade que eu tinha de dar a jogada certa...jogamos e pensei nisso por vários dias. Todas as vezes que jogava eu queria ganhar, não aceitava perder, e isso foi me mostrando o outro lado, a minha vida real.

Minha vida estava um lixo, pensei em tirar minha vida, tomar veneno e não tinha coragem, o que eu queria mesmo era viver e não sabia como, não tinha forças para abandonar o vício, não sabia qual jogada teria que dar para poder vencer.

Dia 12 fevereiro de 2012 – 18:45h, minha irmã me chama como de costume para ir na igreja e recuso mais uma vez, já havia ido outras vezes e não queria mudança de verdade, falei que iria ficar em casa, eu estava muito chateado com a vida, comprei uma garrafa de vinho e uma carteira de cigarro com o dinheiro que ela havia me emprestado. Estava eu na varanda do 1º andar da casa, com raiva de mim mesmo, com tanta ira e não tinha em quem descontar. Foi quando atentei para ouvir o som do rádio que eu havia colocado para tocar, Nunca esquecerei esse momento em minha vida, o hino do Irmão Lazaro: “ filho eu te amo tanto”, comecei a ouvir e era como se Deus estivesse ali comigo, Deus estava ali, me falando que ainda me amava, que não importava com o que eu fiz, e quanto mais eu dizia para mim mesmo que não tinha mais solução ele dizia: “filho eu te amo e quero enxugar teu pranto, filho vem ser meu”. Uauuuuu! Arrepios, choros, lágrimas, sorrisos, adrenalina, mistura de tantas emoções, o que eu senti ali era tão poderoso que nem o poder do crack se compara, momento único e especial, hoje não tenho dúvidas do mover do Espirito Santo aquele dia. Me passou um filme na cabeça, lembrei de quando eu era pequeno e na praia iria morrer afogado e no último instante um surfista passou e me salvou, lembrei das conquistas que joguei fora, da família, das filhas e o filho que estava prestes a nascer, quando percebi já estava de joelhos, e como criança, ali sozinho, gritava desesperado: DEUS, EU NÃO TENHO FORÇAS, PERDI TUDO SENHOR. ME PERDOA E ME AJUDA A SAIR DESSA SITUAÇÃO, ME PERDOA POR TER TE ABANDONADO SENHOR, PROMETO QUE IREI FALAR DO TEU AMOR ENQUANTO EU VIVER.

Ufaaaa! Que alívio senti na Alma, não parava de chorar, joguei fora a corrente do pescoço, joguei o vinho fora, joguei o cigarro fora e por meio da FÉ entreguei minha vida a JESUS. Minha irmã chega da igreja e me encontra chorando, perguntou se eu estava bêbado mais uma vez, quando falei que havia aceitado a Jesus, ela começou a chorar abraçada comigo, sensação inexplicável, nenhuma droga pode subsistir a esse poder, o poder que a Fé tem de libertar alguém de sua própria mente e condições. Ligamos para minha mãe, eu só conseguia chorar e pedir perdão por tudo que havia feito, o arrependimento era grande, o sentimento de culpa sem que me importasse comigo mesmo e sim com as pessoas que machuquei ao longo da caminhada, Foram 20 dias só chorando, eu dormia chorando, acordava chorando e sempre pedindo perdão a Deus.

 

 

7 – A CORDA

 

 

 

Todos os dias fazia questão de estar na igreja, todos me receberam com muito carinho, era como se alguém estivesse me puxando do buraco com uma corda. Estavam alegres pois oravam por isso há muito tempo. Deixei imediatamente os velhos costumes e hábitos, pois entendia que era necessária uma mudança de 180º graus na direção, pois na Palavra do Criador diz: aquele que quiser vir após mim, tome sua cruz e siga-me, e os seguidores de Jesus eram conhecidos por onde andavam pela forma de falar e andar. Todos os dias eu estava na igreja, muitas vezes a tarde e à noite também, queria ocupar minha mente ouvindo a palavra, alimentando minha fé, queria recuperar o tempo perdido, até mesmo porque estava desempregado e sobrava tempo para isso. Um mês após comecei a colocar curriculum, mas nenhuma empresa me aceitava, ex-Policial ninguém queria no Rio de Janeiro trabalhando em sua empresa, 2 meses se passam e sem emprego, meu filho mais novo havia acabado de nascer e eu sem estar por perto. Minha 1º esposa e duas filhas foram para o Rio de Janeiro pois entendíamos que precisávamos estar juntos. O filho mais novo, recém-nascido, precisava do pai, eu sentia o peso da responsabilidade de enviar algo. Sem oportunidades de emprego, recebi o convite de meu tio Davi para vender picolé, ele me forneceu uma caixa e o dinheiro para iniciar o empreendimento, um grande desafio para quem teve um passado promissor e começar agora do zero não seria uma tarefa fácil. Venci minha timidez e fui. Sucesso! Vendemos tudo, comprei minha caixa, paguei o dinheiro e já era meu próprio patrão. Mandava dinheiro toda semana, comecei a juntar dinheiro e com ajuda de meus pais compramos um terreno e começamos a levantar as bases da casa.

Três meses vendendo picolé, estava tudo indo bem, lembro o primeiro dia, tímido, sem voz, com vergonha ainda eu gritava – “ tá calor é? Olha o picolé.” Um sol de 45º grau, as pessoas saiam para olhar quem era o louco que estava gritando na rua. Ninguém vendia picolé naquela área, a caixa esvaziava rápido e eu ainda entregava literaturas e dizia: JESUS TE AMA! Essa foi a promessa que havia feito na minha conversão naquela varanda.

Três meses vendendo picolé e daí começou a ter uma queda nas vendas, outras pessoas começaram a vender na área e certo dia, como de costume, peguei minha caixa e saí de casa as 7:00h da manhã, “ tá calor é? Olha o picolé. 15h da tarde não tinha vendido quase nada, os picolés já estavam derretendo, e no caminho de barro em Carlos Sampaio (Austin), sentei em um tronco de coqueiro onde tive uma experiência com Deus. Comecei a orar e dizer a Deus que me perdoasse, mas que não queria continuar vendendo picolé, falei que reconhecia que nem merecia estar vivo, mas se era para viver gostaria de prosperar e ajudar outras pessoas, chorei vendo a caixa de picolé derretendo, cansado, com fome, quando de repente em meio a minhas lágrimas e oração ouço gritos de crianças, e elas começam a descer ao meu encontro e cada um com 2 reais na mão...eram muitas crianças gritando, - tio eu quero picolé. Uauuuuu! Que foi isso? Deus estava falando comigo ali. Levaram todos os picolés da caixa, kkk, Deus é lindo, ele sabe até onde suportamos. Tive forças ali para continuar a lutar. Voltei a estudar e continuar escrevendo minha história.

Não tenho palavras para descrever o bendito amor de Deus, mas em minha simplicidade tento aqui relatar de maneira simples e objetiva, com todo amor que me foi dado, o que o Pai fez por mim. Esse amor é gratuito, só precisamos transbordar na vida de outras pessoas.

A história da cacimba de seu biu que eu ouvia quando era pequeno me leva hoje a entender a vida em volta dela, e por um descuido tropeçamos em uma “pedra” caímos dentro, chegamos a ficar desacordados por um tempo, até que ao despertar olhamos para cima de onde vem a única fonte de luz e pedimos por socorro, nosso Pai que está a nossa procura nos houve, joga a corda, e após segurarmos firme ele começa nos puxar de volta.

Hoje tenho tudo em minha mente como se fosse um pesadelo do qual acordei, as vezes não acredito no que aconteceu, como me permiti chegar nessa situação. Como um filho tão amoroso e obediente chegou a fazer mãe, irmãos, pai, esposa, filhos, família de um modo geral sofrer?

Hoje não faz outro sentido viver se não for para amar minha família com todas as forças a ponto de morrer por qualquer um deles e ajudar outros jovens a não entrarem ou saírem das drogas, meu objetivo de vida é alcançar o número máximo de pessoas, quebrando o tabu da palavra crack para que não tenham curiosidade e acabem tropeçando na pedra, e outros tantos entendam o poder que a mesma tem de destruir o ser humano, tirando toda sua capacidade de pensar e tomar decisões, e que mesmo que estejam no fundo do poço ainda tem opção de olhar para cima e gritar por socorro, Deus está ao lado do poço aguardando.

 Tenho alguns projetos, desafios e sei que não vai ser fácil, mas o Deus que me fez chegar até aqui me fará chegar muito mais longe.

Assim finalizo dedicando essa obra aos meus filhos, Amanda, Camila e Ederson, pedindo perdão no fundo da minha alma por tudo que lhes fiz passar, quantos traumas criei em suas vidas, quanto tempo perdido longe de quem amo.

Dedico também a Fernanda, mãe das minhas filhas por tudo que suportou, pela bela criação que deu a nossas filhas, por ser tão guerreira e tudo que fez por mim na tentativa de me ajudar a sair das drogas. Mais uma vez lhe peço perdão! Eterna gratidão.

Minha mãezinha, Noemi, mulher guerreira que de Joelhos dobrados trouxe seu filho de volta do inferno. Meu Pai Elias, por ser esse guerreiro, que suportou tanta coisa para não faltar um prato de comida em nossa mesa e todo ensinamento e instrução que nos foi dado, com certeza ele fez o máximo que podia naquele momento. Minha linda e amada esposa Natália Nascimento, e nosso filho Nicolas e Arthur, obrigado por me suportarem com minhas loucuras. (rsrsr)

Sei que muitos agora estão se perguntando: e o final da história?  Continuo escrevendo outros capítulos. A história da nossa vida nunca acaba, e como diz (Pablo Marçal) a quem sou grato por me incentivar a escrever o livro e pelos ensinamentos e conhecimentos que nos foi passado, vá cuidar da sua vida!

Romanos 8:28 - Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.

 

 

 

 

 

 

 

EMERSON NASCIMENTO DA SILVA

  • Ex-Policial Militar,
  • Coach vocacional
  • Palestrante motivacional
  • Empreendedor
  • Gestor de T.I
  • Evangelista

+55 81 983400273